Sinduscon-SP

Em queda pelo terceiro ano consecutivo, a construção voltará a crescer em 2017?

//JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO

//O ano de 2016 não deixará saudades na indústria da construção.

O PIB do setor fechou em 2016 com retração de 5,4%, registrando o terceiro ano consecutivo de queda. Com esse resultado, a construção encolheu 13,4% em três anos. A recessão, que vem desde 2014, deixou
o nível da atividade do setor nos patamares de meados de 2010.

A indagação é se a construção começará a retomar o crescimento de sua atividade em 2017.

O setor depende dos investidores em obras públicas e privadas, e das aquisições de imóveis feitas
pelas famílias. Acontece que o nível geral de investimentos da economia continua caindo e no terceiro trimestre de 2016 atingiu o patamar de 16,5% do PIB, o pior resultado desde o final de 2005.

O Indicador de Atividade das Empresas da Construção Civil (lNACC), que tem como objetivo estimar a atividade do segmento formal construção no país, havia caído 19,1% até setembro de 2016, ou 13,7% na comparação de 12 meses. Em 2015, a queda havia sido mais forte: 21,4%. Entre as variáveis que compõem o INACC, a de maior peso é o emprego com carteira assinada, importante referência da dinâmica setorial. Isto acontece porque, apesar dos investimentos em tecnologia e novos processos realizados nos últimos anos, o setor continua essencialmente intensivo de mão obra. No auge do ciclo de crescimento do setor, em 2013, as empresas da construção sofreram muito com a falta de mão de obra qualificada. Em 2014, o emprego com carteira ainda cresceu em parte do ano, mesmo com a crise econômica já em curso.
Desde 2015, em todos os meses até setembro de 2016, as empresas da construção têm demitido mais do que contratado.

O ano passado encerrou com queda de 14,5% no total de empregados, o que representa a demissão de
477 mil trabalhadores. Em dois anos foram fechados mais de 950 mil empregos, voltando-se ao patamar registrado no início de 2009. A falta de trabalhador qualificado deixou de ser um problema. A redução dos empregos mostra-se disseminada em todos os segmentos setoriais, refletindo a forte contração do investimento público e privado. O destaque negativo continua sendo o segmento imobiliário, que encerrou o ano com queda de 17,9% ou menos 215,7 mil empregos na comparação de dezembro de 2016 com dezembro de 2015. Na área de infraestrutura, por sua vez, o emprego caiu 12,9%. Nos segmentos antecedentes da atividade, engenharia e arquitetura e o de preparação de terrenos, as quedas foram
de 12,4% e 14,9%, respectivamente. Isto significa menos obras.

O declínio da atividade está disseminado por todo país. Em termos relativos, a região Norte tem o pior resultado, refletindo o fim das obras da hidrelétrica de Belo Monte. Em termos absolutos, ou seja, de postos
perdidos no ano, é a região Sudeste que se sobressai, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro.
A queda no PIB da construção será menos intensa do que sugere a forte contração do INACC e do emprego com carteira, o que resulta, em grande parte, do aumento da informalidade, ou seja, o emprego
sem carteira e os autônomos estão contribuindo para compensar as demissões regis-tradas nas empresas. A mão de obra informal ocupada na construção manteve- -se praticamente estável até o terceiro trimestre do ano. Apenas no trimestre agosto-outubro houve piora forte nos números da ocupação.
Nos últimos meses de 2016, a política voltou a dominar o cenário, trazendo novas incertezas. Ainda assim, continua a prevalecer a expectativa de continuidade do ajuste com a aprovação das reformas. Se isto acontecer, a economia poderá crescer 0,5% em 2017. O PIB da construção aumentaria na mesma proporção, porém mais sustentado no aumento da ocupação dos traba- -lhadores autônomos e informais.
As obras do Programa Minha Casa, Minha Vida não terão mais o poder anticíclico de 2009. As metas de contratação são muito mais tímidas. Na área de infraestrutura, ainda há um longo caminho a percorrer entre a realização dos processos licitatórios, realização de projetos, aprovação das licenças até o início das
obras – provavelmente só em 2018. JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO é presidente do SindusCon--SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) e vice-presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e da Fiabci-Brasil (Federação Internacional Imobiliária